O Sítio Agatha é uma associação localizada na comunidade Chico Mendes, assentada pela Reforma Agrária, em Belo Oriente, Tracunhaém, estado de Pernambuco. Representantes do Instituto PACS realizaram uma visita às parceiras, no contexto do acompanhamento das organizações integrantes do coletivo Autogestão de Pernambuco, em julho de 2024. Durante a visita foi apresentada a história de luta da comunidade, que iniciou no processo de ocupação em 1997, do Complexo Prado, uma região historicamente ocupada por empreendimentos sucroalcooleiros. Fomos apresentadas a um rico acervo, contendo registros da ocupação e das remoções truculentas que enfrentaram ao longo dos anos, até serem plenamente assentadas em 2003.
O Sitio Agatha exalava ainda a empolgação pelo Festival Rompendo Cercas, que havia acontecido no final de semana anterior. O evento teve como objetivo a denúncia aos impactos sofridos pelo território e pelo povo do campo através dos latifúndios de cana e das linhas de transmissão de energia eólica, que se impõem na paisagem da mata norte de Pernambuco. Por outro lado, compartilhou alternativas elaboradas na experiência do sítio a partir de uma agroecologia com perspectiva afrocentrada. O Festival recebeu várias atrações artísticas, oficinas, feiras e exposições voltadas à comunidade local.
A denúncia do festival evidenciou conflitos históricos da exploração capitalista do território. A presença marcante dos latifúndios canavieiros mantém até os dias de hoje a paisagem que revela a continuidade do perfil monocultor e agroexportador do Brasil, que remonta ao período colonial, e desde aquela época, promove a precariedade da vida da população local e a degradação ambiental. São quilômetros de plantação de cana para a produção de açúcar e álcool. Segundo o relatório “Impactos das Usinas de Cana-de-açúcar em comunidades rurais na zona da mata de Pernambuco” da Comissão Pastoral da Terra (2019), observa-se um avanço da indústria sucroalcooleira na região, com a intensificação do monopólio sobre o território, sufocando a agricultura familiar e os direitos das comunidades, entre elas, o Sítio Agatha.
Outro conflito está relacionado à busca crescente pela transição energética através da instalação de grandes usinas eólicas, cujos impactos se desdobram por toda a cadeia, na geração, transmissão e distribuição. A comunidade Chico Mendes é atingida pela instalação de linhas de transmissão Campina Grande III – Pau Ferro, uma linha de transmissão de energia eólica de 130 km que atravessa parte dos estados da Paraíba e de Pernambuco, As torres tem se multiplicado na zona da mata de Pernambuco, uma delas passando muito próximo ao Sitio Agatha. Entre os impactos estão o dano ao solo e a vegetação, interferências na fauna e na flora e a desapropriação das chamadas “faixas de servidão’’, terrenos onde as torres são instaladas inviabilizando qualquer outro tipo de uso.
Em 2022, foi produzido o material “Transmitindo Resistência: estratégias de enfrentamento aos megaempreendimentos de energia” que, entre outras coisas, apresenta a cartografia coletiva como instrumento de luta, aplicado no processo contra violações causadas pelo empreendimento. A experiência dos grupos organizados do nordeste no geral e do Sítio Agatha, em específico, tem colocado em xeque o discurso das energias limpas, especificamente da energia eólica, evidenciando os impactos do processo de instalação até a energização dos parques eólicos e das linhas de transmissão. A perspectiva apresentada no material reforça que não há a superação do problema energético sem a transformação dos nossos modos de vida de uma forma mais profunda, uma abordagem que vai na contra-mão do “desenvolvimento sustentável”, avidamente defendido nas cúpulas sobre mudanças climáticas.